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Mulheres e os Lugares
Mulheres e os Lugares é um roteiro que propõe um desafio de descoberta do território e do património da Região de Coimbra, a partir de uma perspetiva ainda pouco comum: o centro da narrativa é ocupado por várias mulheres consagradas pela história ou pela lenda, de diferentes origens e áreas de intervenção, que estão ligadas de forma concreta ou simbólica a alguns lugares da região. Mulheres de ação, vemo-las a ocupar o trono, a estabelecer os direitos de populações inteiras, a tomar decisões estratégicas para a independência do reino, a promover a paz, mas também a estabelecer-se como modelo de piedade ou símbolo de amores trágicos.
Valiosos por si só, estes percursos de vida têm, neste roteiro, a Região de Coimbra como pano de fundo, o que torna esta experiência irresistível, tendo em conta a enorme e variada riqueza patrimonial do território. Aceite este desafio e parta connosco à descoberta.
Góis com…
Catarina de Áustria, rainha e regente de Portugal
Catarina de Áustria nasceu em 21 de janeiro de 1507, filha de Filipe I de Castela e de Joana, a Louca. Ainda muito jovem foi dada em casamento ao rei de Portugal, D. João III. Desse casamento nasceram 9 filhos, mas todos morreram relativamente cedo. Assim, quando D. João III morreu, em 1557, já nenhum dos seus filhos estava vivo, pelo que o trono acabou por ter que ser ocupado pelo seu neto D. Sebastião.
Tendo em conta que D. Sebastião ainda era menor, D. Catarina, que tinha acompanhado ativamente os assuntos da governação do reino, assumiu a regência. O Cardeal D. Henrique foi chamado para seu conselheiro, mas a partir de 1562 acabaria por assumir ele mesmo a regência. Durante esse período, dedicou-se com afinco à educação do neto e do governo do reino.
D. Catarina faleceu em 1578, no Palácio de Xabregas, em Lisboa, alguns meses antes do seu neto, D. Sebastião, desaparecer na Batalha de Alcácer Quibir.
Durante o período em que Catarina de Áustria foi rainha consorte de Portugal, Góis atravessou um período de florescimento. São desse período histórico, as construções da ponte sobre o rio Ceira – a ponte real – e do antigo hospital, bem como a reforma da Igreja Matriz.
Conheça o roteiro que convida a conhecer algum do património edificado de Góis, integrado no produto turístico Mulheres e os Lugares da Região de Coimbra, desenvolvido em parceria com a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra.
Curiosidades
Como era a rainha D. Catarina de Áustria
Dotada dum ânimo varonil e enérgico, era de uma inteligência pouco vulgar, e exerceu decidida influência nos negócios do Estado, porque D. João III não recusou admiti-la em todos os conselhos de estado, sendo a única, entre as antigas rainhas, que veio a merecer tão grande honra.
A rainha D. Catarina assumiu a regência do reino durante a menoridade do neto, chamando para seu lado como conselheiro seu cunhado o cardeal D. Henrique, que também pretendia a regência. Era muito cuidadosa na instrução de D. Sebastião, procurando mestres de avalizado merecimento, capazes de formar um príncipe digno do trono e das virtudes dos seus maiores; no entretanto, entre tantos debates não prevaleceu o voto e escolha da rainha, que se viu obrigada a condescender com a vontade do cardeal, afeiçoado a certa corporação religiosa. Lidando com acerto nas coisas do reino, estendeu os seus cuidados à conservação das conquistas do império oriental, onde os portugueses haviam praticado tantos actos heróicos, e para não descaírem no crédito que tinham merecido as suas grandes façanhas, a rainha regente enviou grossas armadas que humilharam aqueles mares tormentosos, e submeteram debaixo de suas leis a muitos potentados.
Fonte: JORDAN, Annemarie – Catarina de Áustria. A rainha colecionadora, Lisboa: Temas e Debates, 2017, pp. 64-65.
A musca depicta do retrato de D. Catarina de Áustria
Retrato pintado pelo mestre flamengo António Moro (c. 1517-1577) que, em 1552, se deslocou a Portugal para criar uma imagem oficial do casal régio D. João III e D. Catarina de Áustria, quais retratos-protótipo a partir dos quais se executavam réplicas, por razões políticas ou diplomáticas
Em setembro desse mesmo ano, D. Catarina mandava dar pelo seu tesoureiro 500 cruzados ao pintor António Moro, verba correspondente ao pagamento dos retratos reais, seu e do seu esposo.
Há, de resto, como não o sublinhar, uma atmosfera de latente “intimidade” na representação desta mulher de 45 anos, assaltada permanentemente pela morte prematura de seus filhos, nove no total, a maioria falecida com tenra idade (em 1552 só um se mantinha vivo, facto que pode justificar a presença de oito anéis iguais nas suas mãos). À robusta presença física da retratada, o pintor apõe um olhar frágil e sofrido, uma boca carnuda (típica dos Habsburgo) em leve sorriso forçado. A fragilidade carnal que se esconde no austero negro dos brocados e nos tons pardacentos do cetim é sublinhada no lenço alvo de renda, a que corresponde, aliás, na cor e no simbolismo premonitório, uma carta fechada sobre a mesa. E é justamente sobre este lenço alvo de renda que está pousada uma mosca, licença criativa só consentida aos melhores mestres pintores. Este elemento estranho ao aparato do retrato foi decerto pintado com a anuência explícita de Dona Catarina.
Esta musca depicta, assim se convencionou chamar, elemento nada incomum na melhor retratística da época, é, pois, a um tempo como que uma certidão da maestria ilusória do pintor, a outro uma representação de um momento mori, isto é, de uma “memória da morte”, que suja inesperadamente o mais puro tecido, mesmo o de um lenço rendado de uma rainha. Metáfora que a mais ninguém poderia corresponder melhor.
Fonte: JORDAN, Annemarie – Catarina de Áustria. A rainha colecionadora, Lisboa: Temas e Debates, 2017, pp. 64-65.