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Enterro do Bacalhau
Góis, Março de 1932
“No sábado de Aleluia vai realizar-se o “Enterro do Bacalhau”, repondo uma tradicional cerimónia, após um interregno de cerca de 25 anos. Trata-se de um cortejo com início no cimo da vila, com o “julgamento do bacalhau”, no Largo do Pombal (o júri composto de juiz, delegado, advogado, Páscoa, Quaresma, escrivão, oficial, carrasco e duas testemunhas), seguindo depois o enterro para o castelo, acompanhado de um grupo musical.”
(website de Movimento de Cidadãos por Góis)
A tradição do "Enterro do Bacalhau" parece remontar ao século XVI, durante o movimento contra-reforma. Sabe-se que o Concílio de Trento, conferindo à Igreja Católica o poder centralizado e o autoritarismo que possuía antes da Reforma de Lutero e Calvino, levou a que a nova Inquisição combatesse em força as chamadas heresias, independentemente da perseguição aos dos Evangelhos atrás citados. Esta Igreja, que proibia o consumo total da carne durante a Quaresma, abria um precedente a todos aqueles que comprassem a bula. Este indulto só servia os mais abastados, que o podiam pagar, enquanto os desfavorecidos, a grande maioria afinal, teriam de se socorrer do peixe na sua alimentação, durante as sete semanas da quaresma. O peixe mais acessível era o bacalhau. O povo revoltou-se contra esta determinação, mas teve de abdicar, não sem que antes criasse esta festividade pagã, como sentimento de revolta pela sua impotência.
O bacalhau implantou-se assim nos lares dos pobres, sendo o seu salvador. Cozinhado de mil maneiras diferentes, ele foi absoluto durante o período da Quaresma findo o qual o tribunal fantoche dos filhos o julgou e o condenou à morte, por inveja da sua popularidade. O advogado de acusação, o traidor "Filho da Maria Malvada", cujas origens eram de um mero filho do povo, fundamentou o seu ataque no facto de, durante o período de abstinência, só lhe ter calhado do mal-cheiroso, do escamudo, do mal-curtido, do rabo e asa, etc. Esta traição enraiveceu uma vez mais toda aquela gente simples que, durante o cortejo, pede a sua cabeça, para que se faça justiça ao bacalhau.
(in “Arrabal, Terra de Santa Margarida”, Quatro Séculos de Históriade Comissão Coordenadora das Comemorações do IV Centenário da Freguesia do Arrabal)